Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

A esbater as fronteiras

Há muito, aliás praticamente desde sempre, que o cruzamento de disciplinas é uma realidade no motociclismo.

andardemoto.pt @ 1-2-2022 03:45:50 - Paulo Araújo

Aliás, o cruzamento de disciplinas começou por reflectir um certo eclectismo dos seus praticantes, que nos velhos tempos variavam entre scramblers, trial ou velocidade indiscriminadamente, para maximizar a adrenalina e a possibilidade de participação em diversas modalidades.

As próprias motos também eram menos especializadas, ajudando a essa fertilização cruzada: uma scrambler pouco mais era que uma moto de estrada com pneus cardados, e uma moto de velocidade a mesma coisa com avanços adaptados.

À medida que as motos destinadas às várias disciplinas se especializaram, divergiram, exigindo maior especialização, e praticamente ficou apenas um grande caminho aberto: o dos homens do Moto Cross migrarem para a velocidade:  as capacidades físicas e a proeza de serem capazes de derrapar em controlo tornavam-nos naturais nas pistas de alcatrão, onde também eram mais bem pagos, e assim vimos, durante muitas décadas, a começar talvez nos anos 50 do século passado, homens do todo-terreno tornarem-se homens da velocidade, muitas vezes dominado em ambas categorias.


Não sei se todos repararam, mas penso que não terá escapado a quase ninguém que este ano assistimos a uma espécie de fechar do círculo, quando um piloto de MotoGP, Danilo Petrucci, fez o caminho  de regresso e passou das pistas de alcatrão para os trilhos do Dakar.

OK, há que admitir que Petrucci não era um novato total no Todo-terreno, e a sua compleição física com o seu 1,80 m e trocos, favorecia o salto, no fundo para ele um regresso, depois de se ter iniciado no Mini-MX com tenra idade.

Mais recentemente, em finais de 2020, o piloto já te tinha dado bem numa participação no Rali da Sardenha mas no Dakar não se limitou a ser um mero participante, apesar do seu modesto lugar final de 90º, provocado pelas 12 horas de penalização devidas à desistência logo na segunda etapa.

Porém, nas chegadas do dia-a-dia estava frequentemente nos primeiros 20 e chegou mesmo a lutar pela vitória na etapa 4, em que acabou terceiro, vencendo a seguinte perante uma penalização por excesso de velocidade de Toby Price.



As capacidades do italiano de Terni nunca estiveram em causa, mas salientaram, mais uma vez, a raça aparte que são os homens de MotoGP: a combinação, por vezes nutrida de tenra idade, de coordenação do olho para a mão e a capacidade de exceder fisicamente os limites normais vêm sendo registadas como excepcionais, como no estudo que publicámos há dias, quantificando a descoberta de que até o simples ato de piscar os olhos neles se realiza a um ritmo completamente diferentes dos outros seres humanos.

Isto tudo para dizer que, quando estamos a bater à porta da época de MotoGP de 2022, a 73ª se não estou em erro, do Mundial, teremos mais uma vez oportunidade de nos extasiar com essas capacidades, claramente excepcionais, seja de um potencial regresso à ribalta de Marc Márquez, seja dos meandros da defesa do título de Quartararo, ou até da consolidação do que poderá vir a ser o novo domínio da Ducati com Bagnaia e Miller, ou até, quem sabe, do renascer de Miguel Oliveira, se desta o binómio KTM RC16-Michelin funcionar logo desde o princípio, e não a partir do meio da época. Muitas razões para estarmos colados ao ecrã mais uma vez daqui a umas semanas!


andardemoto.pt @ 1-2-2022 03:45:50 - Paulo Araújo

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