Paulo Araújo

Paulo Araújo

Motociclista, jornalista e comentador desportivo

OPINIÃO

A MotoGP em 2023: Mais eletrónica, mais técnica, mais difícil

Um olhar à época que se aproxima

Seria lógico supor que, com o incremento de intervenção eletrónica em MotoGP, fosse mais fácil controlar os 250 cavalos dos atuais motores e as motos se tornassem mais fáceis de pilotar.

andardemoto.pt @ 11-2-2023 20:29:00 - Paulo Araújo

Para 2023, a eletrónica vai incluir tudo, desde os já habituais controlos de tração e mudança de curvas de injeção, travagem motor, corte de pit-lane e anti-wheelie e, pela primeira vez, monitorização, em tempo real pela organização, das pressões dos pneus.


Na verdade, à medida que a eletrónica, testada agora em modelos de computador muito antes de chegar a ser testada em pista, elimina ou diminui muito a margem de erro, a amplitude que sobra para ajustes ao estilo individual ou sensação da cada piloto é mais estreita e a moto, portanto, mais difícil de explorar nos limites.


A possibilidade de controlar a resposta do acelerador de forma diversa, com informação baseada nos dados de GPS sobre a localização exata de moto em cada curva do circuito, permite que, do lado motor, ao abrir o gás à saída de curva, a quantidade exata de combustível seja dispensada, ou que, do lado da suspensão, que a pressão hidráulica certa ajude a manter as rodas coladas ao chão, quer ao entrar em curva, quer na fase de aceleração à saída.


Só que, após a intervenção da eletrónica, a margem de ajuste é agora tão estreita que pouco fica para alterar ao estilo individual de cada piloto e fazer concessões à sua sensação preferida na moto, ou até à forma como os pneus reagem ao desgaste e aumento de temperatura ao longo da prova.


Isto significa que, forçosamente, para alguns, essa estreita margem vai estar absolutamente correta, e para outros não.


Alguns vão dar-se melhor com as motos no seu estado puro e concentrar-se apenas em pilotar, enquanto outros, pelo contrário, vão sentir mais dificuldades e até andar perdidos à procura da sensação mágica, que possivelmente nunca irá acontecer.


Isto torna-se ainda mais importante quando adicionado às dificuldades inerentes ao começo de mais uma época de MotoGP, com inúmeras incógnitas, seja porque é a mais longa de sempre, seja porque inclui dois novos circuitos e países visitados, o Cazaquistão e a Índia, o que só por si pode baralhar as contas seriamente.


Vendo pela positiva, até pode significar que uma equipa satélite, que normalmente recebe as motos oficiais do ano anterior, completamente desenvolvidas e portanto com pouca necessidade de efetuar mudanças, pode ter uma vantagem inicial.


Falamos, obviamente, dos recentes testes de Sepang, em que 6 motos satélite ficaram no Top 10, incluindo o mais rápido Luca Marini.


Mas também com esperança, e a fazer figas, pela Aprilia RNF com a qual Miguel Oliveira também impressionou, sendo o 2º mais rápido no segundo dia.


A vantagem inicial de aterrar logo a plena velocidade pode mantê-los a fugir à frente das motos oficiais durante o resto do ano.


A única marca que parece escapar é a Ducati, que por um lado costuma ter tudo logo quase certo, por outro, tem dois pilotos de estilos tão diversos em Bagnaia e Bastianini que, se não funcionar logo para um, muito provavelmente vai estar ideal para o outro, e ainda por cima, com 8 motos na grelha, recolhe dados novos a um ritmo exponencial.


De resto, se as outras equipas de fábrica, no caso da Yamaha e Honda, os grandes perdedores do ano passado, não conseguirem dar um salto em frente, arriscam-se a passar metade da época a jogar à apanhada.


A Yamaha parece ter dado um passo em frente com um motor mais rápido, a julgar pela prestação de Crutchlow, mas por outro lado, Quartararo diz que precisam de muito mais.


O facto de que a Honda está a apalpar, além de Marc Márquez ter entrado à justa no Top 10, é revelado pela contratação de Ken Kawauchi, vindo da Suzuki, que pouca influência terá se não puder fazer alterações substanciais à RCV, que por sua vez implicam um começo quase do zero.


As grandes incógnitas permanecerão a Aprilia, em que Viñales e Espargaró andaram tão perto, e a KTM Red Bull, que com um novo piloto em Jack Miller, e um Pol em forma na KTM “pintada de GasGas”, no caso da austríaca, poderão ter surpresas para tirar do saco.


Seja como for, estamos à beira, mais uma vez, de uma época de MotoGP muito longa, variada e empolgante, e que começa justamente em Portugal. 


Não percam!


andardemoto.pt @ 11-2-2023 20:29:00 - Paulo Araújo

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